CRATO
Terra com história
Bem no Alto Alentejo, o Município do Crato está repleto de locais históricos e de relevante interesse para a nossa história comum. Habitado há milénios, viu a sequência de povos que passou pelo nosso território aqui se estabelecer e prosperar.
Tal como a esmagadora maioria dos concelhos do interior, o "progresso" das décadas finais do seculo XX contribuíram para uma desertificação humana e redução da importância das povoações do concelho, porém, esse declínio acabou por ajudar a conservar alguns elementos que estão gradualmente a ser recuperados e valorizados, sobretudo para aproveitamento turístico e cultural dos espaços.
Existem cada vez mais espaços turísticos no município do Crato, com o Mosteiro da Flor da Rosa a assumir a posição de ex-libris à espera de o receber. Juntando a cultura Alentejana, a excelente gastronomia, um ambiente relativamente bem preservado, e a cada vez mais necessária calma e paz que só no Alentejo poderá encontrar são motivos mais que suficientes para uma visita até este concelho.
Durante as próximas linhas vamos levá-lo a conhecer um pouco deste concelho, e se formos bem sucedidos, a convencê-lo a ir até ao Crato.
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TERRITÓRIO
O Crato é um concelho localizado no Alto Alentejo, distrito de Portalegre. Este concelho tem uma área aproximada de 398 quilómetros quadrados, inicialmente distribuídos por seis freguesias: Aldeia da Mata, Crato e Mártires (Crato), Flor da Rosa, Gáfete, Monte da Pedra e Vale do Peso, porém a reforma administrativa de 2013 agrupou Crato e Mártires (Crato), Flor da Rosa e Vale do Peso numa única freguesia, reduzindo-se assim o número para apenas quatro.
O relevo ligeiramente ondulante, com zonas de granito e outras de solos argilosos, é recortado por várias ribeiras: a ribeira de Caldeirão, a ribeira de Várzea, a ribeira de Seda, a ribeira de Linhais. Na paisagem destaca-se apenas dois montes: o de Campainhas (311 m) e o Esteval (317 m).
O território do concelho do Crato está principalmente devotado á exploração agrícola ou á exploração florestal. Uma grande parte dos terrenos está coberta por floresta: Montado de sobro e azinho, e algumas zonas de eucaliptos. No concelho existem também vastas áreas desprovidas de floresta, sobretudo dedicadas á produção de gado, ou de alimentação para esse mesmo gado. Existem também algumas áreas ocupadas por olivais.
Com curiosidade refira-se a existência de uma nascente de água termal, em Monte da Pedra. Desta nascente brota água a uma temperatura próxima dos 20 graus, de natureza bicarbonatada, sódica e fluoretada. Esta nascente foi mencionada pela primeira vez em 1810. Nos primeiros anos do Sec. XX, a Câmara Municipal do Crato mandou construiu o balneário, mas fazendo a sua exploração por arrendamento anual. Infelizmente o balneário foi encerrado em 1997, sobretudo devido à poluição da ribeira que passa junto ao posto de captação de água. Existem obras em curso e obras planeadas para dotar a povoação de novas infraestruturas e possibilitar a reabertura das termas.
Vale do Peso
A aldeia de Vale do Peso poderá estar implantada sobre uma sobre as ruínas de outra povoação, a de ”Cidade do Peso“, nome derivado de uma pedra de forma regular que provavelmente pela sua configuração, fazia lembrar um peso antigo. Nesta freguesia existem de facto indicações arqueológicas, sepulcrais, de que este território foi povoado em épocas muito recuadas, talvez pré-romanas, pois quem em muitos sítios apareceram sepulturas cavadas na rocha, a par das quais é também de assinalar a existência de edificações dolménicas, cujos vestígios foram descobertos durante a primeira metade do século XX.
Nos primeiros tempos da Nacionalidade, parece que todo este território estaria algo despovoado, situação que se reverteu de imediato com a doação de Crato, por D Sancho II, à Ordem do Hospital.
Como muitas outras povoações, também Vale do Peso sofreu danos significativos durante a Guerra da Restauração, bem como com as Invasões Francesas, que quase destruíram esta freguesia. Em Março de 1811, já durante a retirada, as tropas napoleónicas acamparam junto de Vale do Peso, num terreno aberto, povoado então de sobreiros e azinheiras, e fronteiro ao atual cemitério.
O priorado hospitalário de Crato criou a paróquia de Nossa Senhora da Luz de Vale do Peso, em data ignorada, depois do século XV ou XVI. Em termos administrativos, como domínio inicial do castelo do Crato e termo desta vila, a freguesia foi sempre do concelho do Crato.
Fazem atualmente parte do seu património cultural e edificado: a Igreja Paroquial, seiscentista, cujo interior foi remodelado em 1660 e na segunda metade do século XVIII; os solares das ruas Carlos Carvalho da Costa e Manuel Subtil; o edifício da Estação de Caminho-de-Ferro; as fontes de Santa Eulália, da Bica, Nova e Formosa; a ponte romana; e as necrópoles do Chamiço e do Azinhal.
Fonte Freguesia de Vale do Peso.
HISTÓRIA
O território que o ocupa o concelho do Crato tem ocupação humana constante desde há milénios. Em vários locais do concelho são conhecidos vestígios e construções dos primórdios da civilização, sobretudo da Cultura Megalítica. Dois exemplos de realce são a Anta do Tapadão e a Anta do Crato, cujas dimensões das lajes empregadas na sua construção permitiram que resistissem á passagem dos séculos sem grandes danos ao contrário do que acontece com muitas outras em outros locais do país. Mas para além destas existem dezenas de outros monumentos e sítios pré-históricos, estando já inventariado um número próximo das sete dezenas. Vários povos passaram por esta terra, numa sucessão mais ou menos violenta de conquistas e reconquistas um pouco à semelhança do que aconteceu por toda esta vasta região. Acredita-se que uma das denominações originais desta terra tenha sido Castraleuca ou Castra-Leuca, posteriormente Ucrate ou Crate e, por fim, Crato.
A fundação da vila é atribuída aos Cartagineses à cerca de 2500 anos atrás. Este povo muito provavelmente terá aproveitado a existência de um outro povoado anterior, no mesmo local ou nas proximidades para se estabelecerem. A escolha da localização da hoje em dia Vila do Crato não terá sido ao acaso, pois a mesma está implantada numa pequena colina mas que tem uma ampla vista sobretudo para toda a vertente sul, de este a oeste, conferindo vantagem defensiva. A proximidade da Ribeira de Seda terá sido também outro motivo a contribuir para esta escolha.
Os Romanos também por aqui viveram e prosperaram. Pelo crato passava uma importante via Romana da qual resistiram até aos nossos dias duas pontes e alguns troços dessa mesma via. Também no sitio da Granja, no Crato existem os restos de uma antiga Villae. Os Romanos terão chegado aqui aproximadamente em 60a.C. e dominado durante os séculos seguintes. No "Concílio Iliberitano" celebrado no ano 300 na cidade de Andaluza de Elvira, encontram-se assinaturas de três prelados lusitanos, um dos quais era o bispo castraleucense, Secundino. Em Aldeia da Mata foi localizada uma necrópole Romana com 136 sepulturas.
Após o declínio do Império Romano, a fortaleza existente no local terá sido destruída pelos "Vândalos" no ano de 413, restaurada posteriormente pelos "Âlanos". Em 582 voltou a ser conquistada por um povo diferente, desta vez os Visigodos, até que em 706 chegam finalmente os Mouros. Seguiram-se quatro séculos e meio até que ocorresse a derradeira mudança de senhores, com a chegada dos exércitos de D. Afonso Henriques. A fortaleza existente no local foi sempre sendo melhorada e atualizada de acordos os padrões de militares das sucessivas épocas.
O Crato tem a sua história intimamente ligada à Ordem de Malta, designação que atualmente tem a Ordem dos Hospitalários, á qual no ano de 1232 o rei D. Sancho II doou o Crato. Nesta altura era prior, Mem Gonçalves, que lhe conferiu á vila primeiro foral também no mesmo ano. Esta Ordem, estabeleceu-se em Portugal no tempo de D. Afonso Henriques, em Leça, na região norte tendo sido o seu primeiro prior, um irmão do rei. No ano de 1335, no reinado de D. Afonso IV, sendo Mestre da Ordem D. Álvaro Gonçalves Pereira, a sede da ordem foi transferida para o Crato, passando ele e os seus sucessores a usarem o título de Prior Do Crato. O priorado que possuía vinte e três comendas e as seguintes terras e seus termos: Crato, Amieira, Belver, Cardigos, Carvoeiro, Sertã, Envendos, Oleiros, Gáfete, Tolosa, Pedrogão Pequeno e Proença-a-Nova. A sede da ordem era o mosteiro de Flor da Rosa, mandado construir propositadamente para acolher a ordem.
À semelhança de outras ordens religiosas, esta comunidade era composta por frades batalhantes, simultaneamente guerreiros e monges, que professavam votos de humildade, pobreza e castidade. Curiosamente, tal regras não impediu D. Álvaro de ter uma vasta descendência com mais de trinta filhos a si atribuídos.
No ano de 1512 o Rei D. Manuel deu novo foral á Vila do Crato. A reforma administrativa de 1836 criou, mas sobretudo modificou e extingui muitos concelhos, porém no Crato não se registaram alterações.
AMBIENTE
O Crato tem uma envolvente ambiental típica do Alto Alentejo, ainda relativamente preservado em alguns locais apesar da atividade humana ter exercido uma pressão relativamente forte nas ultimas décadas. O Concelho é atravessado por alguns cursos de água, sendo os principais a ribeira de Caldeirão, a ribeira de Várzea, a ribeira de Seda, a ribeira de Linhais. Estas linhas de água de um modo geral têm um curso sazonal, bastante variável que vai do regime de cheia a períodos de caudal inexistente sobretudo nos anos mais secos.
A interioridade deste concelho tem grande influencia o seu clima, perfeitamente identificado como clima continental Mediterrânico, com elevadas amplitudes térmicas entre os períodos do verão e do inverno. A estação quente e seca é cada vez mais longa e exigente, interrompida no final do ano e inicio do seguinte por alguns meses frios e rigorosos, onde chove com mais alguma regularidade.
Os Montados de Sobro e Azinho ainda são um das paisagens mais emblemáticas do concelho, e são um rico ecossistema que urge preservar. Coelhos, lebres, javalis e outros mamíferos são presença habitual nestes espaços, juntamente com aves como o pombo bravo, a perdiz e a codorniz assumindo assim alguma importância cinegética.
Outras espécies, como a Abetarda, Calhandra – real, Mergulhão-de- crista, Corvo-marinho, Pato-real, Pato trombeteiro e diversas aves de rapina, destacando o Milhafre- real, a Águia-d’asa-redonda e a Águia-calçada são também presenças habituais, regularmente visitados por um grande número de espécies migratórias ou sazonais. A proximidade com as zonas de nidificação dos Abutres faz com que estas aves também possam ser observadas pelo concelho.
Na flora é importante referir a riqueza e importância da vegetação natural, como o sobreiro, a azinheira e a oliveira, tão típicas da planície alentejana. O espargo, a beldroega, o poejo, a hortelã da ribeira, a carrasquinha são espécies que abundam no campo e que são fortemente aproveitadas na gastronomia de Alter do Chão.
ECONOMIA
No concelho do Crato a atividade económica está repartida pelos diversos setores, com uma cada vez maior incidência no setor terciário, ou seja nos serviços prestados por pequenas empresas privadas ou serviços públicos. O turismo rural tem crescido nos últimos anos, com vários investimentos a serem feitos, e que procuram aproveitar todas as potencialidades deste fantástico concelho.
No setor primário, a agricultura tem bastante relevo, com o cultivos de cereais para grão, os prados temporários e as culturas forrageiras, a vinha e o olival. A pecuária mantém alguma importância, nomeadamente na criação de ovinos e bovinos. A exploração florestal tem também muita importância, seja na extração de cortiça, produção de lenha ou madeira para celuloso.
O concelho chegou a ser servido por duas linhas de caminho de ferro, o Ramal de Cáceres e a Linha do Leste. Estas duas linhas permitiam ao concelho ter alguma facilidade de exportação dos seus produtos, tanto que em Vale do Peso chegou a ser contruído um terminal ferroviário para carga de pedras ornamentais. Atualmente o Ramal de Cáceres está removido a exploração comercial, enquanto a linha do leste foi reformulada, tendo a estação do Crato perdido qualquer via desviada e com isso a possibilidade de carga ou descarga.
O concelho tem acessos rodoviários relativamente simples, sobretudo pela construção (parcial e recente) do IC13. Porém as saídas para norte ou sul são também fáceis.
GASTRONOMIA
Toda a gastronomia Alentejana é muito rica, com pratos que frequentemente recorrem aos produtos locais e a alguns temperos e ingredientes de uso quase exclusivo desta vasta região. Por isso mesmo, no Crato podemos encontrar uma gastronomia tradicional, de qualidade, com pratos confecionados com o saber de outras gerações e com muito sabor.
Da tradição local fazem parte pratos como a Sopa de Feijão Verde, Sopa do Cozido, Sarapatel, Sopa de Feijão com Couve ou Sopa de Coentros. Dos pratos de carne fazem parte o Cozido à Moda do Crato, Arroz de Cabidela, Afogado de Borrego à Moda do Crato, Migas de Feijão com Couve, Carne de Porco Alentejana ou Carne Frita.
Para terminar os doces: Uma iguaria com um nome curioso: Tecolameca (confecionada com amêndoa, gemas, banha, manteiga e açúcar) promete colocar um ponto final ás suas aspirações de fazer dieta. Os bolos da sogra e as barrigas de freira são também bastante comuns, junto com outros doces mais conhecidos.
------- Texto em construção.
Versão publicada a 05/08/2023